Com o início do conclave que vai escolher o sucessor do Papa Francisco nesta quarta-feira (7/5), os olhos do mundo se voltam para a fumaça que sairá da Basílica de São Pedro, no Vaticano. A partir desse momento, entram em cena dois fatores fundamentais para a escolha do novo papa: o legado deixado pelo pontífice anterior e o rumo que se deseja para o catolicismo e sua influência espiritual nos próximos anos.
Para que essa definição ocorra, será preciso alcançar um consenso majoritário entre os 133 cardeais que irão votar no conclave, dentro da Capela Sistina. Embora existam 252 cardeais no total, apenas aqueles com menos de 80 anos têm direito a voto.
A decisão sobre quem será o próximo papa pode ter um impacto profundo na Igreja Católica e nos 1,4 bilhão de católicos romanos batizados ao redor do mundo. E tudo indica que será um processo altamente imprevisível e aberto, por uma série de razões.
O Colégio de Cardeais se reúne em conclave na Capela Sistina para debater e votar em seus candidatos preferidos, até que um único nome prevaleça. Com 80% dos cardeais nomeados pelo papa Francisco, essa será a primeira vez que eles elegem um papa, e o farão com uma perspectiva global ampla.
Pela primeira vez na História, menos da metade dos cardeais com direito a voto será europeia. Os cardeais estão distribuídos da seguinte forma: 16 da América do Norte, 52 da Europa, 23 da Ásia, 21 da América Latina, 17 da África e 4 da Oceania.
"É preciso ter em mente que a Igreja Católica que Francisco deixa como legado é uma entidade global, que deixou de estar centrada na Europa", disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, Massimo Faggioli, especialista em teologia da Universidade de Villanova, nos Estados Unidos.
"E isso se reflete no grupo de cardeais encarregado de escolher o sucessor: é muito mais numeroso e, sobretudo, mais diverso do que aquele que elegeu Francisco em 2013", acrescentou.
E embora o colégio esteja dominado por nomeações de Francisco, essas indicações não foram exclusivamente de perfil "progressista" ou "tradicionalista". Por isso, nunca foi tão difícil prever quem será eleito o próximo papa. Será que os cardeais escolherão um papa africano ou asiático, ou preferirão um veterano da administração do Vaticano?
A seguir, alguns dos nomes mais citados como possíveis sucessores de Francisco, e é provável que mais candidatos surjam nos próximos dias.
Pietro Parolin: Nacionalidade italiana, 70 anos
Cardeal italiano de fala mansa, Pietro Parolin foi secretário de Estado do Vaticano sob o pontificado de Francisco, ou seja, o principal conselheiro do papa. O cargo também o coloca à frente da Cúria Romana, a administração central da Igreja. Tendo atuado, na prática, como um vice-papa, ele é visto por muitos como um dos favoritos.
Alguns o consideram mais inclinado a priorizar a diplomacia e uma visão global do que a pureza do dogma católico. Para seus críticos, isso é um problema; para seus apoiadores, uma virtude. Mas Parolin já criticou a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no mundo, chamando de "uma derrota para a humanidade" o referendo histórico que aprovou a medida na Irlanda, em 2015.
Apesar de ser um dos favoritos, Parolin conhece bem o ditado italiano que expressa a incerteza do conclave: "Quem entra papa sai cardeal." Dos 266 papas que a Igreja já teve, 213 foram italianos. E embora não haja um papa italiano há 40 anos, a guinada da cúpula da Igreja para fora da Itália e da Europa pode indicar que ainda não é hora de um novo.
Luis Antonio Gokim Tagle: Nacionalidade filipina, 67 anos
Ao contrário de Parolin, o filipino tem décadas de experiência pastoral, ou seja, liderou a Igreja diretamente entre o povo, e não como diplomata do Vaticano ou especialista em Direito Canônico. A Igreja Católica é extremamente influente nas Filipinas, onde cerca de 80% da população é católica. Atualmente, o país conta com um número recorde de cinco cardeais, o que pode se traduzir em uma frente de apoio importante, caso todos respaldem Tagle.
Ele poderia se tornar o primeiro papa asiático.
Considerado moderado nos parâmetros da Igreja, já foi apelidado de "Francisco asiático" por seu compromisso com questões sociais e empatia com migrantes, características que o aproximavam do falecido papa.
Tagle é contra o aborto, que classifica como "uma forma de assassinato", posição alinhada com a doutrina da Igreja, que considera que a vida começa na concepção. Também já se manifestou contra a eutanásia. Mas, em 2015, quando era arcebispo de Manila, defendeu uma reavaliação da postura "severa" da Igreja diante de pessoas LGBTQIA+, divorciadas e mães solo.
Disse que esse rigor causou danos duradouros e deixou essas pessoas com a sensação de terem sido "marcadas", afirmando que cada indivíduo merece compaixão e respeito. Tagle já era considerado um papável no conclave de 2013, que elegeu Francisco. Questionado há dez anos sobre essa possibilidade, ele respondeu: "Levo como uma piada! Acho engraçado".
Fridolin Ambongo Besungu: Nacionalidade congolesa, Idade: 65 anos
É bastante possível que o próximo papa venha da África, onde a Igreja Católica continua ganhando milhões de fiéis. Um dos principais nomes é o cardeal Ambongo, da República Democrática do Congo (RDC). Arcebispo de Kinshasa há sete anos, foi nomeado cardeal por Francisco.
É um conservador cultural, contrário à bênção de uniões entre pessoas do mesmo sexo, que considera "contraditórias às normas culturais e intrinsecamente más". Embora o cristianismo seja a religião majoritária na RDC, cristãos têm sido alvos de perseguições e mortes por parte do grupo jihadista Estado Islâmico e de rebeldes associados. Nesse contexto, Ambongo é visto como um defensor aguerrido da Igreja.
Ainda assim, em uma entrevista em 2020, ele defendeu o pluralismo religioso, afirmando: "Protestantes devem ser protestantes, muçulmanos devem ser muçulmanos. Vamos trabalhar juntos. Mas cada um precisa manter sua identidade." Esse tipo de posicionamento pode fazer alguns cardeais questionarem se ele abraça plenamente a missão da Igreja, que inclui a difusão da fé católica pelo mundo.
Peter Kodwo Appiah Turkson: Nacionalidade ganesa, 76 anos
Se for escolhido, o influente cardeal Turkson será o primeiro papa africano em 1,5 mil anos. Assim como Ambongo, já declarou não querer o cargo. "Não sei se alguém aspira a ser papa", disse à BBC em 2013. Questionado se a África teria um bom argumento para eleger o próximo papa, considerando o crescimento da Igreja no continente, respondeu que esse tipo de critério "complica as coisas".
Primeiro ganês a ser nomeado cardeal, ainda em 2003, por João Paulo 2º, Turkson já era cotado como papável no conclave de 2013. Na época, chegou a ser o favorito nas casas de apostas. Guitarrista e ex-integrante de uma banda de funk, é conhecido por sua presença energética.
Como muitos cardeais africanos, tende ao conservadorismo. No entanto, se posicionou contra a criminalização de relações homoafetivas em países africanos, incluindo sua terra natal, Gana. Em entrevista à BBC em 2023, quando o Parlamento ganês debatia um projeto de lei que previa punições severas à população LGBTQIA+, Turkson afirmou que a homossexualidade não deveria ser tratada como crime.
Em 2012, foi acusado de fazer previsões alarmistas sobre o avanço do islamismo na Europa durante uma conferência de bispos no Vaticano. Mais tarde, pediu desculpas.
Por - Gutemberg Stolze / Imprensananet.com