Exposoição em São Paulo - Ao todo, 31 peças de artesãos locais e designers renomados serão expostas em mostra inédita na Casa Brasil Eliane durante o DW! 2019. Um dos lugares mais bonitos do país levou tempo para cair no gosto dos turistas.
A cidade de Belmonte, localizada há cerca de 70 quilômetros da conhecida Porto Seguro, na Bahia, demorou até receber o asfalto que conduziria os visitantes de um ponto ao outro. “Não existe aquilo que você não conhece. Quando você conhece, passa a existir”, justifica Estevão Toledo.
O designer de produto fortaleceu as ligações com essa terra de povo criativo e talentoso no ano passado, quando uniu forças ao secretário de Cultura e Turismo do município, Herculano Assis, e, juntos, fizeram um sonho se tornar realidade. Nascia o Museu das Cadeiras Brasileiras (MUCA) ainda com apenas uma peça, do designer e belmontense José Zanine Caldas.
Doações e o olhar criterioso dos curadores fizeram crescer. “Envolveu tanto sentimento que foi tudo muito rápido”, lembra Herculano. Em novembro de 2018, já de portas abertas e com um acervo de 31 cadeiras, o MUCA, continuaria sendo modificado. “Um museu está em construção eternamente. Quando fica pronto é porque está na hora de fechar”, conta.
A ideia é que o museu esteja em constante desenvolvimento, por isso, ele partiu para sua primeira viagem. Nos próximos dias, desembarca em São Paulo, no showroom das marcas Eliane e Decortiles, para uma exposição inédita. A Casa Brasil Eliane será um dos principais pontos do DW!2019 e apresenta como principal atração, 31 icônicas cadeiras vindas diretamente de Belmonte.
O tesouro que antes era visto só por belmontenses e turistas, agora vai dialogar com outras comunidades e ganhar a merecida notoriedade. “Essa é a visão maior do designer, tocando pessoas em lugares que a gente não conhece”, complementa Estevão, que além de curador e diretor de arte do museu, também assinou uma das cadeiras.
A cadeira
É muito fácil pensar numa cadeira, a ideia forte do assento, encosto e quatro pés. Para o designer, a cadeira é um dos maiores desafios da carreira. As infinitas possibilidades numa peça pequena com muitos encaixes em pouco espaço. “O designer tem disso, de ter a cadeira como peça ícone dentro daquilo que ele acredita. Expressa sentimento. A partir de uma cadeira, sabe-se muito do designer e se vê a possibilidade da pessoa”, expõe Estevão.
Datada de 1950, a cadeira mais antiga do acervo foi assinada por José Zanine Caldas. Uma das mais recentes, feita em 2019, foi desenhada por Dagmar Muniz. A figura miúda da mulher idosa que já atravessou 80 anos de vida, contrasta com o tamanho dos vasos de cerâmica e a grandiosidade de seu ofício. Dona Dagmar é o elo de todo o acervo, é quem liga o passado ao presente.
“Todos nos reencontramos naquela arte. Além de ser a ligação entre o que já passou e o que vivemos hoje, Dona Dagmar é quem dá a visão de futuro, de sustentabilidade. Ela tem essa autoridade. Há mais de 60 anos ela transforma o barro em vida, no seu pão, moldando um fruto da natureza entre as mãos”, salienta Herculano.
Acostumada a fazer potes e esculturas que chegam a dois metros de altura, a artesã desafiou a si mesma na arte de moldar o barro no ano passado. “É uma pessoa simples, da própria cidade, que trabalha com artesanato e disse: ‘Eu também posso fazer uma cadeira!’”, relembra Estevão.
Das tradições ao ar de novidade, o designer busca a inspiração como alguém que espera uma bênção. Como que através de uma oração, faz o que não existia se materializar. O resultado é o reflexo de um povo. Belmonte será representada em São Paulo pela presença de 31 cadeiras assinadas por 31 diferentes artistas do país. Mestres do design como Sérgio Rodrigues, os irmãos Humberto e Fernando Campana, Zanini de Zanine, Etel Carmon, José Zanine Caldas, Inês Schertel, Pedro Paulo Franco, Cláudia Moreira Salle e Rodrigo Ohtake, que compõem o primeiro museu do gênero no Brasil.
As 31 cadeiras de Belmonte
Sérgio Rodrigues – Menna (1978)
Humberto e Fernando Campana – Assimétrica (2016)
Zanini de Zanine – Cortem (2011)
Etel Carmona – Cadeira 22 (2008)
Estúdio Branco & Preto – Palhinha (1952)
Ronald Scliar Sasson – CR203 (2016)
Olavo Machado Neto – Ossa (2018)
Fernando Mendes – Pedro (2010)
Flávio Franco – Gina (2018)
Juliana Vasconcelos – Girafa (2018)
Sérgio J. Mattos – Coral (2016)
José Zanini Caldas – Zanine I (1950)
Paulo Alves – Atibaia (2007)
Morito Ebine – Broto (2010)
Carlos Vergara – Papelão (1970)
Inês Schertel – Guapa (2018)
Pedro Paulo Franco – Esqueleto (2012)
Guilherme wentz – Tela (2017)
Gustavo Bitencourt – Cadeira Torno (2017)
Cláudia Moreira Sales – Quase Mínima (2004)
Domingos Tótora – Rio Manso (2015)
Rodrigo Ohtake – Cadeira Bu (2016)
Estevão Toledo – Flórida (2007)
Rodrigo Almeida – Catingueira (2016)
Bernardo Senna – Joaquim (2015)
Gustavo Dias – Zara Chair (2017)
Dona Dagmar – Pote (2019)
Julia Krantz – Elipse (2019)
Maurício Azeredo – Do Avesso (2005)
Ricardo Graham – 3 Pés (2014)
Hugo França – Uama (2018)
Fonte: Jornal de São Paulo
Por - Gutemberg Stolze / Imprensananet.com